Dom de Línguas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009 |



1. Muitos dizem que não existem línguas “estranhas” ou ininteligíveis (não compreendidas pelo intelecto) na Sagrada Escritura:
Em Romanos 8,26: “o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis”
"Inefável", de fato, é aquilo que não pode ser expresso por palavras, não aquilo que não pode ser interpretado.
"Gemido", por sua própria definição, é algo que produz som. O gemido não é necessariamente um som baixo; "Gemer", segundo o dicionário, pode, inclusive, significar "dizer", "proferir" ou "cantar" com voz inarticulada.
Conclui-se, portanto, que os "gemidos inefáveis" são aqueles que não são expressos por palavras inteligíveis, mas sim por sons ininteligíveis, como se dá no caso da Renovação Carismática.
A passagem 1Cor 14,2 diz: “Pois aquele que fala em línguas, não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, enuncia coisas misteriosas”.
Veja que a palavra espírito não se refere a psicologia humana (espírito de humor por exemplo), mas refere-se ao carisma como em “os espíritos dos profetas são sujeito aos profetas” (1Cor14,32); “a outros, o dom de discernir os espíritos” (1Cor. 12,10).
Jesus falava em parábolas e só entendia quem tinha o Espírito, quem estava com Deus, com o dom de línguas não é tão diferente, a pessoa deve se ‘abrir’ ao Espírito, Jo 6,63: “O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.”
2. Alguns dizem que o dom de línguas serviria apenas para evangelizar aqueles de outros idiomas, como uma tradução.
Essa afirmação não tem suporte na Bíblia quando ela diz:
“Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a (santa) palavra.” (At 10,44) Ora Pedro estava se comunicando com eles normalmente, não precisava de dom de tradução, então daí veio o Espírito Santo e “eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus” (v. 46). Ora, para que falar em línguas de outros idiomas se estavam todos comunicando-se normalmente?
Outro exemplo é de Paulo em Éfeso, em Atos capítulo 19, em que Paulo estava falando normalmente com discípulos (sem precisar de tradução), então Paulo impôs as mãos e: “o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam”.
Se existem línguas estranhas existe o dom de interpretação de línguas conforme: “Por isso, quem fala em línguas, peça na oração o dom de as interpretar.” (1Cor 14,13)
Acusam o movimento carismático e os pentecostais de pronunciarem palavras inventadas. Primeiro deve se verificar que há oração em línguas e falar em línguas, esse artigo não estuda isso, mas se mostra que deve haver uma oração em línguas: “porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis.” (Rm 8,26).
Se não sabemos como orar é porque convém que usemos os gemidos (sons) não entendíveis. Se existe o dom de interpretar é porque o dom línguas não é apenas falar outros idiomas.
No Compêndio de teologia mística e ascética: “o dom  das línguas, que, em São Paulo, é o dom de orar em língua estranha com certo sentimento de exaltação; falar várias línguas”.
A oração em línguas começa com a pessoa, pronunciando o som característico, que é imitado de alguém que já reza. Então, há pessoas que ainda não tiveram o dom de orar em línguas e tentam imitar alguém que já tem. É como imitar alguém rezando Pai Nosso, quem não fala minha língua, conseguirá até mesmo rezar algumas partes.
Uma reza mecânica, apenas mexendo os lábios sem a devoção ao Espírito Santo acaba sendo mesmo auto-sugestão. Se essa língua é dos anjos, ou seja, lá qual sistema alfabético desconhecido pelas pessoas, a Bíblia diz que não conhecemos tal linguagem:
"Assim também vós: se vossa língua só profere palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento. Há no mundo grande quantidade de línguas e todas são compreensíveis." (1Cor 14,10)
Não devemos confundir com o dom de línguas (e que foi raro) avançado, no qual consta na biografia de alguns Santos, inclusive teve em Atos, em que eles ao evangelizar pagãos, estes escutavam em sua língua nativa. Em Atos 2 se repetiu porque havia muitos estrangeiros naquele lugar, e simbolizava também a Igreja indo a todos os povos conforme mais adiante explicado.
Ainda sobre pentecostes, em Atos mostra pessoas que parecem terem escutado coisas estranhas ou verem as pessoas em êxtase falando alto, reclamaram:
“Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: Que significam estas coisas? Outros, porém, escarnecendo, diziam: Estão todos embriagados de vinho doce.”
(Atos 2,12-13)
3. O que a Igreja fala a respeito do dom de línguas?
Não devemos confundir com o que Santo Agostinho e o magistério da Igreja falam a respeito do dom de línguas, eles falam da representação simbólica e eclesial do dom de línguas para a universalidade da Igreja:
“A Igreja nascia no dom das línguas. As línguas significavam a multiplicidade e variedade dos povos, que ao longo dos séculos deviam entrar na mesma comunidade da Igreja de Cristo.”
(Papa João Paulo II, Homilia na Solenidade de Pentecostes. Em 7 de Junho de 1992.)
“Aquelas línguas faladas pelos que estavam repletos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, que haveria de estar entre as línguas de todos os povos.”
(Santo Agostinho, Sermão 271)
Observe que o magistério não costuma falar sobre o estudo de teologia mística nesses documentos, cuida apenas da parte eclesial, observe que nem mesmo os outros carismas são citados. Então ele explica apenas o sentido eclesial do dom de línguas.
O dom de línguas é também um dom carismático no qual Paulo conforme 1Cor 14: “hierarquia dos carismas”.
O magistério da Igreja então não falou especificamente sobre a oração de línguas, nem minuciosamente os carismas, há apenas em uma constituição do Concílio Vaticano II:
“O Espírito Santo (...) distribui também graças especiais* entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: «a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum» (1 Cor. 12,7)”
(Lumen Gentium 12)
*mesmo termo que o catecismo usa ao se referir aos carismas.
Lembrando que cabe a Igreja julgar a autenticidade de tais dons.
4. Como saber se a oração em línguas que fazemos hoje é a mesma oração no novo testamento?
Pelos frutos se sabe se algo é de Deus. Se umas das funções do dom de línguas é abertura para outros dons, mas nem sempre é necessário o dom de línguas para tal abertura, e se os carismas que são proclamados pela comunidade reunida em oração edifica as pessoas, então isso é fruto de uma oração bem rezada no Espírito Santo.
Tenho visto que em grupos de oração da RCC reunidos, geralmente o Espírito Santo escolhe cerca de duas pessoas para comunicar a vontade de Deus para aquelas pessoas, ou determinada pessoa. Fica o dom de línguas mantendo sua característica de dom extraordinário porque ele escolhe quando e a quem comunicar algum dom carismático.
5. Os carismas e oração em línguas são fenômenos raros e não comuns?
São Paulo diz que TODOS aspiremos aos dons do espírito, e procuremos tê-los em abundancia, depois diz que todos que estão reunidos em oração pode proferir um cântico em línguas, ou seja, provavelmente a oração em línguas.

"Assim também vós: já que aspirais aos dons do Espírito, procurai tê-los em abundância, para a edificação da assembléia."
1Cor 14,12

"Quando estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação, falar em línguas ou interpretá-las."
1Cor14,26
Isso continua mantendo a característica de dons extraordinários. Já que não são tão extraordinários quanto outros fenômenos místicos como o êxtase, levitação, visões ou locuções interiores.
Caso alguém considerasse tão extraordinário (raros) esses dons, é como se São Paulo dissesse: "Assim também vós: já que aspirais ao “êxtase, levitação, visões ou locuções interiores”, procurai tê-los em abundância”. O que não tem cabimento, o dons possuem uma prática diferente, para edificação de uma assembléia reunida. Outros fenômenos como êxtases são para ajudar indiretamente na conversão de alguém e diretamente para a santificação pessoal.
Ninguém ensina dons, porque já temos o Espírito Santo desde o batismo, mas procuramos em espera suplicante que Deus conceda a alguém alguma graça, já que pentecostalmente o Espírito é derramado a todos (cf. Joel 3,2).
E a Lumen Gentium 12 diz: “O Espírito Santo (...) distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos”. Estamos sempre com obras e encargos na Igreja com o sentido realmente de renová-la.

“Graças ao movimento carismático, muitos cristãos, homens e mulheres, jovens e adultos, redescobriram Pentecostes como realidade viva e presente na existência cotidiana. Desejo que a «Espiritualidade de Pentecostes» se difunda na Igreja, como impulso renovado de oração, de santidade, de comunhão e de anúncio”.
(João Paulo II, Vésperas de Pentecostes, 29 Maio de 2004)


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